sábado, 3 de setembro de 2011

Segunda aula

No segundo encontro (02/09/2011) da cadeira conversamos sobre a faixa etária dos zero aos três anos de acordo com as idéias de Delalande, Piaget e as autoras do livro La música na Escuela (0-6) da Judith Akoschky, Pep Alcina, Maravillas Diaz, Andrea Giráldez da Editora Graó.

O envolvimento com as crianças com o ambiente sonoro inicia antes do nascimento e ocorre forma espontânea e intuitiva. Delalante fez um mapeamento da educação musical na educação infantil. Ele buscou a relação da música com os periodos de desenvolvimento que Piaget propôs: periodo sensório motor, pré operacional, operacional e formal. Esse periodos de desenvolvimento não possuem idades estanques, mas depente dos estímulos, do contexto cultural e do ambiente que a pessoa vive. O que diferencia o periodo sensório motor do período pré operacional, por exemplo, é a capacidade que a criança adquire de representar uma cena que já viveu em outro momento, construindo assim a noção de tempo. É um processo gradativo que o professor deve percorrer passo a passo com os alunos, sem ansiedades. Delalande nomeou de momento de Exploração o periodo sensório motor, no qual a criança está se descubrindo corporalmente e descobrindo sons ambientais e dos instrumentos; Momento da expressão o período pré operátorio, no qual a criança consegue se colocar na brincadeira e Momento da construção no qual a criança começa a participar de brincadeiras e jogos, nos quais há combinações.

Apresento agora o que estudamos nesta aula: 
O desenvolvimento passo a passo da que forma que a criança vai respondendo á musica.

*Beatriz Ilari em um dos seus textos, trás que vigésimo segundo dia de gravidez o ouvido se desenvolve no feto, na vigésima quinta semana o ouvido possui funções e na trigésima segunda semana, o sistema auditivo fica completo e o feto escuta bem.


*No primeiro mês de vida: O bebê reage ao som e á música através de reflexos dinâmicos, discrimina alguns sons e esquemas sonoros da fala e do ambiente, quando o professor tocar músicas de contraste suave com 60 ou 70 pulsações por minuto, referentes a batidas da mãe em estado de tranquilidade, a música será tranquilizante para o bebê; Já quando o professor tocar músicas de contrate suave com 120 pulsações por minuto, referentes aos batimentos do bebê, a música será estimulante para ele.



*Até os quatro meses: O bebê emite sons em diferentes alturas, chama atenção do seu entorno emitindo sons ascendentes e descendentes, possui a capacidade de agrupar sons aos dois meses, repete balbucios, tem a necessidade de reproduzir o que produz prazer, gera as primeiras coordenações sensório motoras e pode converter o movimento de balanço da mãe em autonômo, este é ponto de partida para os esquemas ritmicos.


*Dos quatro meses aos oito meses: a fala e o canto estão mais sensíveis á estrutura musical, aflora as capacidades afetivas da voz e da comunicação, uma refere-se á linguagem e ao pensamento e a outra refere-se ao canto e criatividade, ocorre a lalação que é a união de vogais e consoantes, os motivos melódicos de cada cultura estabelecem os intervalos que os bebês reproduzem, alguns autores afirmam que os primeiros intervalos que as crianças são capazes de afinar são os de terça menor, ritmicamente são atraentes os tempos situados entre 110 e 120 pulsações por minuto e o movimento provocado por ritmo é mais ativo que os fonemas da letra e melodia.


*Dos oito aos doze meses: O bebê começa a fazer coisas intencionalmente para manter contato dos objetos no corpo, tem capacidade de discriminar trocas de melodia ou de sons e distinguir sequências ritímicas, apresenta maior coordenação que lhe permite maior previsão do que lhe acontecerá, atira objetos para escutar o som que fazem ao cair, tem capacidade de dar respostas ritmícas mediante ás palmas, demonstra maior capacidade de adequar seus movimentos com a música e com o canto silábico espontâneo.


*Dos doze aos dezoito meses: as canções são o núcleo da expressão musical da criança sem organização tonal e ritmíca e as pausas respondem a necessidade de respiração, primeiro a criança imitará as palavras depois o ritmo e posteriormente á altura e mostra capacidade de reagir corporalmente ao som e a música.


*Dezoito aos vinte quatro meses: A criança vai descobrindo a utilidade dos objetos devido a suas propriedades, começa a solucionar problemas eliminando a tentativa e o erro, inícia a representação que substitui a manipulação, quando chega aos dois anos já não precisará manipular um objeto para saber sua utilidade, mas explorá-lo continuará sendo uma conduta habitual que possibilitará novos conhecimentos acerca do mesmo objeto, no canto espontâneo custuma utilizar durações curtas e longas e os fonemas da letra e os sons da melodia são menos significativos para ela que o ritmo e o movimento corporal que esse ritmo provoca.


*Dois aos três anos (pré-operacional): capacidade de dominar a linguagem e a representação do mundo por meio de símbolos, a personalidade é egocentrica. Dos dois aos três anos, suas capacidades já são potencialmente as mesmas que a idade adulta, o que constitui um dos argumentos para favorecer a estimulação precoce, capacidade de representação simbólica, confunde a realidade com o seu desejo, aumenta a capacidade de coordenação motora, aumenta a coordenação dos movimentos de palmas em comparação aos efetuados com os pés, segue a pulsação quando ela se acomoda á sua pulsação interna, os gestos adquirem um significado concreto e podem ajudar a recordar eventos, tudo se traduz em atividade motora e o jogo é importante, apresenta resposta corporal intencional em relação á música, mas ainda é difícil se coordenar em dupla, improvisa canções repetitivas baseadas em uma mesma frase melódica que vai aumentando progressivamente em quantidade, variedade e consistência, prefere jogar com a voz e ir aos extremos de sua tessitura vocal que se mantem em um registro médio aproximadamente uma oitava, realiza com facilidade intervalos de quarta ascendente e descendente. Primeiro reproduz o contorno da melodia, depois intervalos e depois notas intermediárias. Aproximadamente aos três anos aumenta sua curiosidade e faz perguntas intermináveis: "Por que? Por que?"


O professor de Música

O professor sabendo deste desenvolvimento em uma aula para bebês deve primeiro deixar a criança explorar, realizar uma música de entrada dizendo o nome de cada criança, desenvolver a aula, realizar um momento de relaxamento e cantar música de tchau dizendo novemente o nome de cada criança. Assim a criança cria uma rotina. Tive a oportunidade de observar o trabalho belíssimo da professora Paula Pecker que musicaliza bebês e crianças em Porto Alegre e ela utiliza esta metodologia.  Nas aulas para as crianças maiores é importante que o professor possibilite que as crianças façam e escutem música, que tenham momentos de canto, exercícios de memória, vivenciem um repertório de cantigas de roda e músicas variadas e relaizem exercícios ritmícos. A exploração, imitação e jogo são ferramentas importantes nesse ensino de música. As propostas devem ser coerentes, tendo início, desenvolvimento e final e esta aprendizagem requer repetição com variações que renovem o interesse das crianças.



Curiosidades, Vídeos e Atividades partilhadas:

*A professora Denise relatou que tinha uma aluna enfermeira na Especialização em Arteterapia na Feevale e cantava para os bebês prematuros nos hospitais. Este canto e o contato físico após as intervenções que o bebês sofriam nos hospitais ajudavam o bebê a se equilibrar rapidamente, depois do desiquilíbrio da intervenção. Tive a oportunidade de realizar meu último estágio do Centro Universitário Metodista IPA no Hospital da Criança Santo Antônio com educação musical, entravamos nos leitos e passavamos nos corredores cantando e tocando e percebi o quanto os hospitais tem se humanizado neste sentido, reconhecendo o poder da música para o bem estar e como fonte curadora. Uma das mães no hospital em que estagiei ao observar sua filha cantando alegremente com o nosso grupo disse: "a música á alegra tanto que até esquece a dor" e esta frase marcou essa experiência tão enriquecedora que vivenciei lá.








 



Fotos no Hospital Santo Antônio da Criança, com os colegas e amigos Anna, Cenair, Gabriela, Luíza e com a amada professora Maria Cecília Torres.



 
Vídeo de um dos momentos:

                                          



*A colega Giane Ramos lembrou de uma música que podemos cantar no berçario para os bebês, tocando em seus rostos. O contato físico nesta idade é importante para o desenvolvimento afetivo do bebê.




CARA REDONDA!
Olhem a cara redonda
Que hoje eu fiz
 Tem olhos, tem boca
                       Pequeno nariz
                       Tem duas orelhas que são bem
iguais
                       Cabelos fofinhos pro lado e pra trás.


*E ensinou uma atividade: Utilizar um balão com água, colocar no ouvido da criança e do outro lado realizar um estímulo sonoro, pois a água conduz o som de forma mais rápida que o ar e é uma atividade dinâmica.



 



 

*Conversamos que as expressões do professor quando passa uma canção ou atividade musical nesta faixa etária é fundamental, pois é uma preparação para expressividade da criança. Faça caras e bocas, module sua voz e principalmente crie com as crianças, explorando esse imaginário infantil.


 

 




 
Na segunda parte da aula nos reunimos em grupo e conversamos sobre os seguintes textos. Irei realizar uma síntese das principais idéias de cada texto.


A música e o desenvolvimento da mente no início da vida: investigação, fatos e mitos. (Beatriz Ilari)


O artigo trata da interferência da educação musical no desenvolvimento da inteligência lógico-matemática, na linguagem e leitura. Nos primeiros dez anos de vida ocorre as distinções sobre altura, timbre e intensidade e o desenvolvimento e refinamento destas ações, as crianças desenvolvem suas preferências e memórias visuais e o desenvolvimento cognitivo se dá pelo processo de impregnação e imitação. A autora faz uma relação entre a aprendizagem musical com outros conteúdos: como a matemática, a linguagem e a leitura. E mesmo com todas as pesquisas realizadas sobre o assunto o texto diz que ainda não há comprovação que a pessoa que estude música melhore seu aproveitamento na matemática, por exemplo. Como se existisse uma relação causal entre os conteúdos. As pesquisas sobre o aprendizado musical e a leitura são as mais efetivas e é comprovado que o trabalho de percepção auditiva favorece a discriminação dos sons e das letras. Apesar desse benefício extramusical, devemos ter consciência que a música se justifica por si mesma, ela constitui uma importante forma de comunicação e expressão humanas e a maioria dos povos possuem música, a música carrega traços da história, da cultura e identidade social que são transmitidos e desenvolvidos nas aulas de música e o fazer musical envolve diversas formas de aprendizagem contidas em atividades como audição, canto, representação, reprodução, criação, composição, improvisação, movimento, dança, execução instrumental e etc.




Cante bebê, que eu estou ouvindo..do surgimento do balbucio musical (Esther Beyer)


Começa falando que a escola separa a mente do corpo. Ela fala que o bebê vai ouvindo sons e construindo significados e que devemos se pensar no bebê como um ser único, observando e registrando. Fala do choro dos bebês, que cada mãe sabe porque a criança está chorando. Essa ações dos pequenos necessitam de uma interpretação que é nossa.  E que na educação infantil o professor deve estimular as crianças de formas variadas.




Pensar, cantar, ouvir: reflexões sobre a musicalidade em crianças pequenas (Esther Beyer)


O texto fala sobre questões que envolvem a musicalidade das crianças. Como se consegue medir a capacidade musical de uma criança? GEBRE realizou uma pesquisa com quinze pessoas de 29 á 83 anos sobre musicalidade.
As perguntas eram:
1. Como podemos dizer que uma pessoa é musical?
2. E nos bebês como podemos detectar a musicalidade?
3. De onde vem a musicalidade?

E as respostas foram:
a) capacidade de experiência, capacidade de ouvir e ter prazer na música.
b) habilidades musicais práticas, tocar instrumento ou cantar uma canção.
c) habilidades musicais cognitivas, aprender músicas e notas, ter conhecimento musical.
d) capacidades gerais.

Foi desenvolvida uma pesquisa pelo BASTIAN, que pergunstou para 60 campeões de um concurso de música e responderam o que era a musicalidade. As respostas foram:

a) capacidade de expressão.
b) sensibilidade.
c) captar rapidamente.
d) capacidade de memória.
e) premissas corporais.
f) ouvido absoluto.

O que mais apareceu nas respostas que envolveram a pesquisa foi a resposta: "gostar de ouvir música" e "tocar algum instrumento". E ao responder sobre o bebê as pessoas responderam que a musicalidade neles se manifesta através de seus movimentos, da sua atenção ao ouvir uma música e a forma como reage so contraponto: som e silêncio. O que refletimos em aula é do cuidado de não acharmos que a musicalidade é simplesmente um dom e sim reconhecermos que ela é construída principalmente pelos estímulos do meio.




A Música no desenvolvimento infantil: concepções e desafios. (Esther Beyer)


Neste texto a Esther trás exemplos da relação mãe e bebê de um ano e meio a dois nas aulas de música. Na primeira situação a mãe se interfere a aula inteira no aprendizado de seu filho, dizendo como ele deve fazer, o que é certo e errado. Na segunda situação, a mãe deixa seu filho totalmente solto ou deixa ele com as cuidadoras, sendo indiferente á este aprendizado. E na terceira situação, a mãe incentiva seu filho a aprender, o parabeniza e interfere algumas vezes o ajudando neste aprendizado. A autora trás uma problemática que ela vivenciou, ela dava aulas em sua casa e percebia que existia uma questão cultural forte de como cada mãe reagia com o seu filho. Na aula de música, a mãe deve acreditar na troca, na construção e acreditar que seu bebê pode aprender e ter com ele uma relação de afeto.




A importância da interação no desenvolvimento cognitivo musical:um estudo com bebês de 0 a 24 meses. (Esther Beyer)


Comenta a importância da interação entre o cuidador e a criança e também da interação entre toda turma. Ela diz que a criança é estimulada pelos colegas e da importância de trabalhar esse vínculo. Se a criança tem a música bem trabalhada, depois ela terá habilidade de regular suas emoções, resolver problemas de stress e traumas, o impacto positivo da música será de longa duração. A música trabalha com os dois lados do cérebro, direito trabalha com a lógica e o esquerdo trabalha as emoções. A aula deve ser oferecida de de forma organizada e sistemática, sempre com novos desafios.



Depois das conversas, a aula foi encerrada! Agradeço por ela, pois aprendi bastante.

Um comentário:

  1. Boa tarde! Eu estou acompanhando com muita simpatia as suas postagens, que eu descobri hoje. Acredito que você tenha cometido um pequeno erro na citação do título do livro em espanhol que você menciona. Fiz uma busca no Google e encontrei o título que me parece o correto:
    La música en la escuela infantil (0-6)
    Akoschky, Judith; Alsina, Pep; Díaz, Maravillas; Giráldez, Andrea
    978-84-7827-636-3
    Graó, Editorial -- 2008
    É apenas um pequeno reparo. Quem está acostumado a ler em espanhol nota que "na" não existe nessa língua, só em português. Quem não está, dificilmente vai se aventurar a ler esse livro, que ainda por cima é difícil de achar, assim como o do Delalande, que eu acho que é o autor que eu descobri nos livros de Gilles Deleuze sobre cinema. Consegui achar o livro dele no Google mesmo...
    Gostei muito do seu uso de Piaget, eu nunca tinha feito essa relação!
    Cordialmente,
    Tan

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